Meu filho troca fonemas na fala e letras na escrita: quando procurar ajuda

Bruna Fialho

10/11/20254 min read

Quando as crianças começam a se comunicar, é comum que algumas palavras sejam pronunciadas de forma incorreta. À medida que o desenvolvimento avança e novas habilidades vão sendo adquiridas, esses erros tendem a diminuir. No entanto, quando a criança continua apresentando trocas de fonemas na fala e trocas de letras na escrita em uma fase em que já deveria estar utilizando corretamente esses recursos, é importante investigar. Isso ajuda a evitar impactos na aprendizagem e a prevenir a desmotivação e a baixa autoestima escolar.

Troca de fonemas e letras: um sinal de atenção

Trocar fonemas na fala ou letras na escrita pode ser um sinal de atenção. Esse comportamento pode aparecer em diferentes contextos, especialmente relacionados ao transtorno da aprendizagem.

Transtorno Específico da Aprendizagem

Esse transtorno geralmente se manifesta nos primeiros anos escolares e se caracteriza pela dificuldade em adquirir e utilizar habilidades acadêmicas fundamentais, como:

  • Leitura exata e fluente de palavras isoladas

  • Compreensão da leitura

  • Expressão escrita e ortográfica

  • Cálculos aritméticos

  • Raciocínio matemático (solução de problemas)

No domínio da leitura e escrita, a criança pode apresentar:

  • Dificuldades na precisão da leitura de palavras

  • Problemas de velocidade ou fluência da leitura

  • Prejuízos na compreensão do texto lido

  • Trocas frequentes de letras na escrita

Segundo o DSM-5-TR, a dislexia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades de aprendizagem, caracterizado por problemas no reconhecimento preciso ou fluente de palavras, dificuldades de decodificação e de ortografia.

De acordo com o Instituto ABCD, a dislexia é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta habilidades básicas de leitura e linguagem. Ela é considerada um transtorno específico da aprendizagem porque seus sintomas afetam diretamente o desempenho acadêmico, sem que haja outra condição neurológica, sensorial ou motora que justifique as dificuldades. A dislexia pode causar prejuízos:

Na fala (troca de fonemas):

  • Atraso no desenvolvimento da fala

  • Problemas para formar palavras corretamente (ex.: “popica” em vez de “pipoca”)

  • Confusão entre palavras semelhantes (“umidade” / “humanidade”)

  • Erros de pronúncia, como trocas, omissões ou substituições de sons

  • Dificuldade para nomear letras, números e cores

  • Dificuldade em atividades de aliteração (repetição de sons consonantais iguais ou parecidos) e rima

  • Dificuldade para se expressar de forma clara

Na escrita (troca de letras):

  • Erros de ortografia, mesmo em palavras frequentes

  • Omissões, substituições e inversões de letras ou sílabas

  • Escrita mais lenta que o esperado para idade e escolaridade

Outros fatores

Nem sempre a troca de fonemas ou letras está relacionada a um transtorno. Uma avaliação completa deve considerar fatores como:

  • Falta de oportunidades de aprendizagem

  • Baixa estimulação

  • Metodologia de ensino inadequado

  • Pouca familiaridade com determinadas palavras

  • Problemas visuais ou auditivos

  • Problemas relacionados a fala

Uma boa avaliação permite identificar quais habilidades já estão presentes e quais precisam ser estimuladas. Assim, além de compreender a origem das trocas, torna-se possível planejar intervenções eficazes para apoiar a criança.

O que que fazer?

Se as trocas de fonemas na fala e de letras na escrita forem constantes, é importante buscar um profissional especializado para avaliação e intervenção.

Os pais e responsáveis também podem ajudar em casa, estimulando o desenvolvimento da linguagem e da escrita de forma lúdicas.

Algumas atividades lúdicas podem auxiliar no desenvolvimento da leitura e escrita, além de favorecer a atenção e o fortalecimento das funções executivas, que incluem memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva. Essas habilidades são fundamentais para a aprendizagem e para a autorregulação da criança.

  • Leitura compartilhada – adulto e criança leem juntos um mesmo texto, revezando trechos, frases ou parágrafos. O adulto lê modelando o ritmo, a entonação e as pausas, enquanto a criança acompanha visualmente antes de assumir sua parte.

  • Jogos de palavras – como stop, forca, caça palavras e soletrando, que estimulam a linguagem, a ortografia e a atenção de maneira lúdica.

  • Quebra-cabeças de sílabas e jogos de rima – favorecem a consciência fonológica, a percepção dos sons da fala e a construção das palavras.

  • Atividades que envolvam atenção e funções executivas – como dama, xadrez, Uno, dominó (tradicional ou adaptado com sílabas/associações) e jogo da memória (com figuras, letras ou palavras). Esses jogos estimulam habilidades importantes como memória de trabalho (reter e manipular informações), controle inibitório (frear impulsos e esperar a vez) e flexibilidade cognitiva (adaptar-se a mudanças de regras ou estratégias). Além disso, favorecem planejamento, organização e concentração.

De maneira divertida, essas práticas fortalecem o vocabulário, a consciência fonológica, a atenção e a autoconfiança da criança.

Quer cuidar melhor da aprendizagem do seu filho?

Se você percebe que seu filho troca fonemas na fala ou letras na escrita com frequência, não espere a dificuldade se tornar um obstáculo maior. Uma avaliação profissional pode fazer toda a diferença para apoiar o desenvolvimento escolar e emocional da criança.

👉 Agende uma consulta comigo para compreender as necessidades do seu filho e começar um plano de intervenção personalizado e acolhedor.

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5. ed., texto revisado. Porto Alegre: Artmed, 2022.

INSTITUTO ABCD. Instituto referência em Dislexia no Brasil. Disponível em: https://www.institutoabcd.org.br/. Acesso em: 11 out. 2025.

MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S. de; SCAFF, M. Neuropsicologia clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2018.