Meu filho não consegue se concentrar: quando pode ser TDAH

Bruna Fialho

10/11/20255 min read

A atenção é uma das funções mais importantes para a aprendizagem e para a organização do dia a dia. É ela que permite que a criança acompanhe uma explicação na escola, conclua uma tarefa ou mantenha o foco em suas atividades. Quando há prejuízos na atenção, atividades simples podem se transformar em grandes desafios.

Crianças naturalmente podem perder a concentração em algumas situações, principalmente em atividades longas ou que não despertam seu interesse. Isso, por si só, não significa a presença de um transtorno de atenção. A diferença está quando essas dificuldades se tornam persistentes, aparecem em diferentes contextos e começam a trazer prejuízos significativos na aprendizagem, na convivência social ou nas atividades do dia a dia. Nessas situações, é importante avaliar a possibilidade de Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH).

O que é Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH)

Segundo DSM-5-TR, o Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) tem como característica um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade e impulsividade que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento.

Para que seja considerado, é necessário que seis ou mais sintomas de desatenção e/ou hiperatividade e impulsividade estejam presentes por pelo menos seis meses, em intensidade incompatível com o nível de desenvolvimento da pessoa, provocando prejuízo significativo em suas atividades sociais, acadêmicas ou profissionais, reduzindo a qualidade de vida. Além disso, os sintomas devem ter se manifestado antes dos 12 anos de idade, estar presentes em dois ou mais ambientes, como casa, escola, trabalho ou interações sociais.

Os sintomas do TDAH, de acordo com o DSM-5-TR, são apresentados a seguir e abrangem critérios de desatenção, hiperatividade e impulsividade.

Desatenção

  1. Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades.

  2. Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (ex.: dificuldade em manter o foco durante as aulas, conversas ou leituras prolongadas).

  3. Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente (ex.: parece estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia).

  4. Frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho (ex.: começa a tarefa, mas rapidamente perde o foco).

  5. Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas ou atividades (ex.: dificuldade em manter materiais e objetos pessoais em ordem, trabalho desorganizado e desleixado, mau gerenciamento do tempo).

  6. Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (ex.: trabalhos escolares ou lições de casa).

  7. Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (ex.: materiais escolares, lápis, livros, óculos, celular).

  8. Com frequência é facilmente distraído por estímulos externos.

  9. Com frequência é esquecido em relação a atividades cotidianas (ex.: realizar tarefas, obrigações).

Além das dificuldades de concentração, também podem estar presentes sintomas de hiperatividade e impulsividade, que afetam o comportamento e o desempenho escolar.

Hiperatividade e Impulsividade

  1. Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés, ou se contorce na cadeira.

  2. Frequentemente se levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado (ex.: sai do seu lugar na sala de aula).

  3. Frequentemente corre ou sobe em coisas em situações em que isso é inapropriado.

  4. Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente.

  5. Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado” (não consegue ou se sente desconfortável em ficar parado por muito tempo).

  6. Frequentemente fala demais.

  7. Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída (ex.: não consegue aguardar a vez de falar).

  8. Frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez.

  9. Frequentemente interrompe ou se intromete (ex.: se intromete em conversas, jogos ou atividades; pode começar a utilizar as coisas de outras pessoas sem pedir permissão).

    O TDAH pode ser dividido em subtipos:

    Apresentação combinada – quando tanto os critérios de desatenção quanto os de hiperatividade e impulsividade são preenchidos nos últimos seis meses.

    Apresentação predominantemente desatenta – quando apenas os critérios de desatenção são preenchidos, mas os de hiperatividade e impulsividade não foram preenchidos nos últimos seis meses.

    Apresentação predominantemente hiperativa e impulsiva – quando apenas os critérios de hiperatividade e impulsividade são preenchidos, mas os de desatenção não foram preenchidos nos últimos seis meses.

O TDAH pode afetar de diferentes maneiras a rotina escolar e as interações sociais da criança. No ambiente de aprendizagem, é comum que ela se distraia com frequência durante a explicação, pule linhas ao copiar ou ler, esqueça de entregar atividades ou até responda questões de forma incorreta, não por falta de conhecimento, mas por desatenção. Muitas vezes, mesmo sabendo a resposta, não consegue demonstrar isso na prova ou tarefa.

Além disso, a criança pode ter dificuldade em permanecer sentada e quieta na sala de aula, o que a faz perder explicações importantes do professor. Essa agitação ou impulsividade também pode interferir no convívio com os colegas, já que ela pode interromper conversas, falar fora de hora ou agir sem pensar nas consequências.

Dicas para apoiar seu filho com TDAH no dia a dia

  • Monte uma rotina estruturada – crianças com TDAH se beneficiam muito de horários previsíveis. Isso ajuda a organizar o tempo.

  • Use organizadores visuais (agenda ou quadro de horários) – agendas, listas e quadros de rotina ajudam a criança a visualizar suas tarefas, lembrar compromissos e se organizar melhor no dia a dia.

  • Estude em um ambiente calmo e sem distrações – quanto menos estímulos visuais e sonoros, melhor. Um espaço organizado favorece a concentração.

  • Dê uma instrução de cada vez – fale de forma simples, objetiva e clara. Depois, confirme se a criança entendeu, pedindo que repita com suas próprias palavras.

  • Sempre que possível, acompanhe a criança nas atividades escolares – esteja presente para orientar e apoiar, ajudando-a a retomar a tarefa quando se distrair ou perder o fio do que estava fazendo. O acompanhamento deve ser próximo, mas leve, transmitindo segurança em vez de cobrança.

  • Use jogos que estimulem a atenção – como jogo da memória, quebra-cabeças, dominó ou atividades que exigem concentração para serem concluídas.

  • Trabalhe o controle inibitório com jogos de regras – tabuleiros como dama, xadrez, Uno ou até jogos cooperativos ajudam a criança a esperar sua vez, planejar e lidar com frustrações.

  • Valorize o esforço e dê feedback positivo – elogiar pequenas conquistas motiva e fortalece a autoestima, evitando que a criança se sinta apenas criticada pelos erros.

  • Divida tarefas grandes em partes menores – em vez de pedir “arrume o quarto”, oriente por etapas: “guarde os brinquedos”, depois “coloque os livros na prateleira”.

  • Inclua pausas curtas durante os estudos – intervalos ajudam a manter a atenção sem gerar exaustão.

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Identificar esses sinais é o primeiro passo para garantir que a criança tenha o suporte certo e possa desenvolver todo o seu potencial. Se você tem dúvidas sobre como ajudar seu filho a lidar com os desafios da atenção e do comportamento, posso caminhar com você nesse processo.

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Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5. ed., texto revisado. Porto Alegre: Artmed, 2022.

MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S. de; SCAFF, M. Neuropsicologia clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2018.

PETERSEN, C. S.; WAINER, R. Terapias cognitivo-comportamentais para crianças e adolescentes. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

Como o TDAH pode impactar a aprendizagem e o desenvolvimento social da criança